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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Curtir, comentar e compartilhar

Assisti a este vídeo que me incentivou a escrever o post de hoje.

Constantemente surgem novos textos e discussões acerca das redes sociais, da exposição em excesso; de suas causas e consequências. Mas isto ainda é um tema que gera mais e mais “material” para ser questionado e, até, olhado com certa perplexidade.
Sim, perplexidade. A exposição é tanta que às vezes sabemos o que Fulano comeu ao longo do dia – refeições e lanches – que horas realizou suas atividades, com quem, onde e o que, teoricamente, estava sentindo.
Desejar ser admirado, elogiado e até invejado não é um fenômeno atual, mas a internet ajudou para que o alcance fosse maior.
Hoje você não precisa se contentar em ser admirado pelo seu vizinho ou colega de trabalho, não, isso é muito pouco! Você pode quebrar fronteiras e ser invejado por alguém que mora há 15 anos no Japão e que você nem conhece ao vivo. Já imaginou que poder você tem?!

Já que exemplifiquei o Japão, tão geometricamente distante do Brasil, há quem argumente que redes sociais ajudam na comunicação e aproximação de parentes, amigos, paqueras e qualquer outro tipo de relacionamento.
O raciocínio, a meu ver, não é todo distorcido, afinal, que atire a primeira pedra quem nunca se comunicou, com ajuda da rede social, com alguém que mora longe.
Mas...

Mas não é “somente” o comunicar-se: é interessante acompanhar a necessidade que, a sociedade como um todo, tem demonstrado em exibir sua vida; necessidade do mostrar-se, de ser o mais bonito, o mais inteligente, o mais viajado, o mais bem-sucedido e, principalmente, o mais feliz.
O acompanhar a vida do outro gera até uma certa (falsa) intimidade, daquele tipo de encontrar na rua alguém que você mal conhece, mas que sabe que a filhinha nasceu, para onde o casal viajou de férias e o tipo de comida preferida; o que pode  vir a gerar uma insegurança pessoal/familiar – no entanto isso já levaria a discussão para outro ponto.
É ver uma pessoa tão linda na foto cheia de filtros e efeitos, mas na rua cruzar com ela e vê-la cheia de olheiras, rugas e cicatrizes das espinhas da adolescência. Não ser tão bonita como a foto não é ruim, pelo contrário!, é o poder-ser você, com o que de bom e mau a vida te brindou.

Necessidade de aceitação? Necessidade de afirmação? Necessidade de ser o melhor? Competição? Pouco interessa o nome dado ao fenômeno da exposição, tão atual na nossa vida.  
Interessa o que fazemos com isso, como enfrentamos e reconhecemos em nós mesmos que há uma lacuna, uma falta, que a internet tem ajudado, momentaneamente, a suprir.
Sucumbiremos a essa falta?

Já ouvi pessoas dizerem que postam ali o que pensam e sentem, pois não tem quem os ouça e que é bom ver as pessoas curtindo sua postagem e comentando seu ponto de vista.
Chegamos ao ponto no qual não temos mais ouvidos atentos e ombros carinhosos para nos acolher; temos a impessoalidade a qual recorremos.

Que solitário, em meio a um número crescente de amigo virtual, deve ser não ir mais à casa do amigo para comer uma pizza e intercalar com um desabafo, e sim restringir seu modo-de-ser ao mundo virtual, na angustiante espera de ser notado, curtido, compartilhado e comentado.

Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica;
gestalt-terapeuta (em formação);
mestranda em Psicologia - UFRN



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