Páginas

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Amar e ser amado na atualidade



  Muitos anseiam por viver um grande amor como caminho para atingir a felicidade. Ah! Amar e ser amado... Encontrar alguém a quem admirar e dedicar atenção, com quem se sentir aceito e compreendido, alguém para dividir bons momentos. Sonha-se em encontrar aquela pessoa que demonstra alegria por permanecer em sua companhia, que se importa com o seu bem-estar. Esse estado de enamoramento é acompanhado, geralmente, por uma sensação de completude e satisfação.
Mas, os vínculos amorosos são complexos e frágeis, capazes de provocar sentimentos de insegurança e desejos conflitantes. Ao mesmo tempo em que nos aproxima da felicidade, o amor também nos expõe à dor, pela possibilidade de perder a pessoa amada. Só quem já viveu uma grande desilusão amorosa sabe a devastação que ela pode provocar.
Sabemos, desde Freud, que cada um entra numa relação amorosa e a vivencia de modo muito peculiar, conforme o seu próprio modelo básico de amar constituído na infância e marcado por experiências muito primitivas. Experiências relativas à primeira relação amorosa, a que ocorre entre mãe e filho. Expectativas, fantasias, angústias, demandas, temores compõem uma estrutura de base que o adulto carrega consigo.
Muitos elementos da cultura também são poderosas forças capazes de interferir e modificar as relações amorosas. Vivemos o tempo do individualismo, do menor compromisso com o outro, em favor dos interesses pessoais. Isso contribui para que se sustente um ideal de relação amorosa mais descompromissada e avessa ao dramático.
O prazer individual e imediato é privilegiado, em detrimento dos afetos e sentimentos. Na esfera sexual, a satisfação máxima é valorada como condição e sinal de bem-estar psicológico e boa saúde. Mas, como afirma Lucía B. Fuks (no livro Narcisismo e vínculos), a liberação da vida sexual parece não haver conduzido a um enriquecimento da mesma. Ela não promoveu a satisfação das necessidades de afeto e de autêntico reconhecimento próprias da natureza humana.  Aliado a toda uma tecnologia do prazer, o sexo se desenvolve alheio às significações e à ternura. Tornam-se triviais as diferentes formas de “consumo” do corpo do outro, até mesmo como meio do indivíduo exaltar o próprio eu.
Na cena social, não há lugar para dor ou sofrimento, que são evitados, negados ou calados. Isso compromete o desenvolvimento do autoconhecimento e da capacidade de amar. Na tentativa de evitar a dor, o indivíduo pode ser levado a fugir das relações afetivas, renunciando a empreitadas de tão alto risco como é a de dedicar-se à construção de uma relação amorosa.
Pois, amar e, principalmente, estar apaixonado sempre implica certa dose de idealização e de dependência, que, com o passar do tempo, tendem a produzir pequenas ou grandes decepções. Manter uma relação amorosa inclui lidar com alguns hábitos do outro que lhe desagradam; inclui entrar em contato, a cada dia, com a realidade de que nada é perfeito.
Por outro lado, quem se fecha em um narcisismo defensivo e não se arrisca a amar, também corre riscos. Sua existência pode tornar-se carente de sentido e de significações. Em maior intensidade, pode ser arrastada para o vazio e atravessada por insuportáveis sentimentos de tédio, isolamento e solidão.
Para estar com o outro é necessário amar a si próprio e tolerar as próprias falhas. É preciso poder usufruir de algo essencial da incompletude humana: o que ela tem de motor da vida, de mobilização do desejo e de força para lutar por realizações.
Não há felicidade sem dor, não há paixão sem transtorno. Só quando se pode lidar com a falta e com as diferenças é que se pode investir em uma forma de amor que se abre para construir, para criar o novo. 

Eugênia Chaves 
Psicóloga
Psicanalista
eugeniachaves2012@gmail.com
(84) 9981-7530


Um comentário: