Muitos
anseiam por viver um grande amor como caminho para atingir a felicidade. Ah! Amar
e ser amado... Encontrar alguém a quem admirar e dedicar atenção, com quem se
sentir aceito e compreendido, alguém para dividir bons momentos. Sonha-se em
encontrar aquela pessoa que demonstra alegria por permanecer em sua companhia, que
se importa com o seu bem-estar. Esse estado de enamoramento é acompanhado,
geralmente, por uma sensação de completude e satisfação.
Mas,
os vínculos amorosos são complexos e frágeis, capazes de provocar sentimentos
de insegurança e desejos conflitantes. Ao mesmo tempo em que nos aproxima da
felicidade, o amor também nos expõe à dor, pela possibilidade de perder a
pessoa amada. Só quem já viveu uma grande desilusão amorosa sabe a devastação
que ela pode provocar.
Sabemos,
desde Freud, que cada um entra numa relação amorosa e a vivencia de modo muito peculiar,
conforme o seu próprio modelo básico de amar constituído na infância e marcado
por experiências muito primitivas. Experiências relativas à primeira relação
amorosa, a que ocorre entre mãe e filho. Expectativas, fantasias, angústias,
demandas, temores compõem uma estrutura de base que o adulto carrega consigo.
Muitos
elementos da cultura também são poderosas forças capazes de interferir e
modificar as relações amorosas. Vivemos o tempo do individualismo, do menor
compromisso com o outro, em favor dos interesses pessoais. Isso contribui para
que se sustente um ideal de relação amorosa mais descompromissada e avessa ao
dramático.
O
prazer individual e imediato é privilegiado, em detrimento dos afetos e
sentimentos. Na esfera sexual, a satisfação máxima é valorada como condição e
sinal de bem-estar psicológico e boa saúde. Mas, como afirma Lucía B. Fuks (no
livro Narcisismo e vínculos), a
liberação da vida sexual parece não haver conduzido a um enriquecimento da
mesma. Ela não promoveu a satisfação das necessidades de afeto e de autêntico
reconhecimento próprias da natureza humana.
Aliado a toda uma tecnologia do prazer, o sexo se desenvolve alheio às
significações e à ternura. Tornam-se triviais as diferentes formas de “consumo”
do corpo do outro, até mesmo como meio do indivíduo exaltar o próprio eu.
Na
cena social, não há lugar para dor ou sofrimento, que são evitados, negados ou
calados. Isso compromete o desenvolvimento do autoconhecimento e da capacidade
de amar. Na tentativa de evitar a dor, o indivíduo pode ser levado a fugir das
relações afetivas, renunciando a empreitadas de tão alto risco como é a de
dedicar-se à construção de uma relação amorosa.
Pois,
amar e, principalmente, estar apaixonado sempre implica certa dose de
idealização e de dependência, que, com o passar do tempo, tendem a produzir pequenas ou grandes decepções. Manter
uma relação amorosa inclui lidar com alguns hábitos do outro que lhe desagradam;
inclui entrar em contato, a cada dia, com a realidade de que nada é perfeito.
Por
outro lado, quem se fecha em um narcisismo defensivo e não se arrisca a amar, também
corre riscos. Sua existência pode tornar-se carente de sentido e de
significações. Em maior intensidade, pode ser arrastada para o vazio e atravessada
por insuportáveis sentimentos de tédio, isolamento e solidão.
Para
estar com o outro é necessário amar a si próprio e tolerar as próprias falhas.
É preciso poder usufruir de algo essencial da incompletude humana: o que ela
tem de motor da vida, de mobilização do desejo e de força para lutar por
realizações.
Não
há felicidade sem dor, não há paixão sem transtorno. Só quando se pode lidar
com a falta e com as diferenças é que se pode investir em uma forma de amor que
se abre para construir, para criar o novo.
Psicóloga
Psicanalista
eugeniachaves2012@gmail.com
(84) 9981-7530
Muito bom! Precisando ler essas palavras
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